
Há cerca de dois anos eu tive o privilégio de conversar rapidamente com o ex-governador Leonel Brizola. Perguntei a ele se não sentia saudades do tempo em que foi aluno da Escola Técnica de Viamão - ETA e de quando atuou como Técnico Agrícola na prefeitura de Porto Alegre. Ele falou sobre este tempo com muito carinho. Seus olhos brilhavam. Seu semblante mostrava que as cenas estavam vivas em sua memória. Ficou claro, na nossa conversa, que a escola agrícola muito lhe marcou pelo saudosismo exagerado demonstrado por Brizola. Nossa conversa foi interrompida pelo pessoal da FARSUL que desejava a sua presença em um evento da entidade.
Na "verdade", muitos livros foram escritos contando a trajetória política de Leonel Brizola. A grande maioria dos autores suprimiram uma das fases mais lembradas pelo do ex-governador que foi o período em que estudou na Escola Técnica de Viamão. Ele não se preocupava com este esquecimento. A valorização deste tempo era notado no seu dia-a-dia. Tinha convivio diário com pessoas que tinham vínculo com escolas técnicas, como Volmar Castilhos, ex-professor do ensino técnico rural e Eduardo Debastiani, Técnico Agrícola e meu colega de aula na Escola Agrícola de São Leopoldo. Eduardo foi apresentado a Brizola por Castilhos. Quando foi governador do Rio de Janeiro, ele solicitou a contratação de um Técnico Agrícola gaúcho, pois queria alguém com "cheiro de terra" ao seu lado. Eduardo, natural do município de Muçum, tornou-se amigo, fiel escudeiro e homem de confiança absoluta do ex-governador.
Outra pessoa que era muito próxima a Brizola é o também Técnico Agrícola e deputado estadual Giovani Cherini. Cherini estudou na ETA e mantinha uma relação muito próxima com seu líder político a ponto de tê-lo como uma espécie de conselheiro político.
Brizola tinha uma relação histórica com os Técnicos Agrícolas. Ele ajudou a fundar a Associação dos Técnicos Rurais do Estado do Rio Grande do Sul, em 1941, atuando como secretário da entidade. Isto lhe rendeu uma homenagem da categoria no ano de 1991 com a entrega do prêmio "Técnico Agrícola". Engenheiro, se elegeu prefeito de Porto Alegre, deputado estadual, deputado federal e governador em três ocasiões: Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro em duas oportunidades.
Brizola morreu. Foi reconhecido até mesmo por seu maior desafeto, a Rede Globo. Todos tiveram que curvar-se diante da coerência política do grande líder. Em vida, lutou na consecução das reformas de base, principalmente a reforma agrária, umas das suas marcas, que a seu ver devia ser feita "na lei ou na marra". Teve muitos feitos para orgulho de todos nós. Sempre disse que viveria cem anos. Foi traído pelo coração.
Roberto Dalpiaz Rech
Extraído do site: http://sintargs.com.br/jornal/jornal16-2004.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário